Cargos e carreiras no
Mercado Financeiro
Antes do Mercado Financeiro
Admito que escrevi este capítulo com o viés de bancos internacionais. Na medida do possível, fazemos os paralelos com as práticas dos bancos e fintechs brasileiras, que, por serem menos padronizadas, são mais difíceis de documentar.
Esperamos que o texto seja útil para você entender a dinâmica do mercado, apesar da imperfeição da nossa narrativa.
Menor Aprendiz (no ensino médio)
O Brasil tem uma legislação específica para o que chamamos de menores de idade aprendizes. Consulte a legislação específica sobre o assunto.
Trainee (último ano da faculdade ou recém-formado)
Originalmente, os Programas de Trainee eram direcionados para alunos no último ano da faculdade ou recém-formados uma experiência imersiva na empresa ou banco para no final de até 12 meses, definir em que área aquele profissional seria alocado.
Ao longo destes 12 meses, o trainee conheceria várias áreas diferentes, desenvolveria relacionamento corporativo e seria alocado em uma área e função de acordo com performance e demanda.
Ao longo do tempo, o conceito original se perdeu, com muitos trainees não passando pelo processo rotativo no empregador. Em muitos bancos, o trainee é apenas um “analista zero” (um cargo antes de um analista de primeiro ano).
Estágio (nos últimos anos de faculdade)
Muita gente não sabe, mas o contrato de estágio é um contrato entre a faculdade e o empregador cujo objetivo é proporcionar experiência prática complementar à formação do aluno (que é uma “parte” no contrato). Por óbvio, o estágio deve ser associado à faculdade do aluno (um aluno de administração não pode fazer estágio em enfermagem, por exemplo). O estágio normalmente está associado à graduação, mas existem contratos de estágio para alunos de mestrado e doutorado, normalmente associados a atividades acadêmicas.
A outra decorrência óbvia é que o aluno deve estar regularmente matriculado em uma faculdade para poder estagiar. Assim, um aluno que trancar a faculdade não poderia continuar estagiando.
O estágio, portanto, não estabelece uma relação trabalhista com o empregador, de forma que as regras da CLT não se aplicam: estabilidade, recolhimento de encargos, outras obrigações trabalhistas.
O estágio não pode durar mais do que dois anos na mesma empresa. No fim desse período, o aluno será dispensado ou efetivado na função.
Nos Estados Unidos e Europa não existe, até onde sabemos, legislação específica para estágio como temos no Brasil. Os estágios são regulados por contratos de trabalho temporário, com data para começar e data para terminar, sem o ônus que a CLT representa por aqui. Normalmente o estágio está restrito ao período de férias de verão no hemisfério norte (daí o termo “summer internship”) e duram até 6 a 12 semanas em julho e agosto.
Linha do tempo para a carreira de IB e correlatas: execução
1-3 anos de formado
Analyst | Analista
Associate | Associado
4-6 anos de formado
Vice President | Gerente
7-9 anos de formado
Director | Superintendente
10+ anos de formado
Para as posições seguintes, segue como officer
Para outras carreiras, o tempo de experiência exigida e tempo médio de promoção pode variar.
Analyst | Analista (1-3 anos de formado)
Normalmente são três anos de analista: de primeiro ano ou júnior, de segundo ano ou pleno e de terceiro ano ou sênior. Esse é o cargo de entrada em uma área no Mercado Financeiro.
Gosto de dizer que o analista deve analisar! Além de coletar e processar informações, ele deve saber tirar conclusões pertinentes e aplicáveis ao seu contexto. Infelizmente vemos muitos analistas fazendo gráficos e tabelas mecanicamente sem entender o que estão fazendo ou para o que serve aquele trabalho. Não seja um desses!
Nos EUA, comumente, o recém-formado assinará um contrato de 2 anos de trabalho para o qual ele receberá o salário quinzenal e dois bônus anuais. Os top-performers normalmente recebem uma extensão do contrato por mais um ano (o analista de 3º ano) e receberá mais um bônus. No final do contrato, espera-se que esse profissional faça um MBA em alguma escola de prestígio americana.
Associate | Associado (4-6 anos de formado)
Originalmente nos EUA, o Associate acabou de tirar o seu MBA. É um profissional com 2-3 anos de experiência e mais 18 meses de treinamento prático intensivo, inclusive com um summer job de 6 a 12 semanas antes de se formar. Diferente do analista, seu contrato não tem tempo definido.
A bolha do ponto com (final dos anos 90, e 2000 especificamente) levou muitos bancários para as empresas ponto com e obrigou o Mercado Financeiro a flexibilizar. A partir de então, ficou mais comum o Associate-promote, o analista que foi promovido diretamente para Associate sem voltar para a escola e fazer um MBA.
Dependendo da carreira e do empregador, é comum os cargos de analista e Associate serem “up or out”, ou seja, se a sua performance não justificar a sua promoção, dificilmente você será mantido na folha de pagamento. Nenhum banco abertamente admitirá isso, mas procure em qualquer banco internacional um analista com 5 anos de experiência, dificilmente você encontrará.
No Brasil, a promoção de analistas para Associates é mais comum e raramente existe o pré-requisito de um Associate ter MBA. Mas os profissionais recém-formados no MBA usualmente entram no Mercado Financeiro como Associates.
Nem todas as casas seguem a terminologia americana de first-year associate, second-year associate e third-year associate. Em alguns bancos o associado é chamado de coordenador.
Vice President | Gerente (ao menos 3 anos na função)
Essa nomenclatura é realmente confusa! Como que é o Vice President, ou o VP (leia “vi pi”) vem antes do Diretor? Pois é! Mas quando você for promovido para VP a sua avó ficará bem contente! A minha ficou...
O Gerente | VP é um cargo de transição, em que o profissional assume mais responsabilidades de liderança. Se em um banco brasileiro, o gerente certamente terá ao menos duas pessoas reportando-se a ele, nos bancos internacionais não tem hierarquia direta definida (a hierarquia existe por projeto).
Um VP sênior já passa a ter responsabilidade de clientes, o que em banco internacional chamam-se de officer. Um officer tem clientes, time, responsabilidade de geração de receita, ou seja, é um “quase-diretor” em treinamento!
ENTENDA!
Officers (Sênior VP para cima) tem meta de resultado, diferente do time de execução (analista até VP) que tem de executar. Officers direcionam o time (e têm remuneração em linha com performance), enquanto o time de execução vai de acordo com a maré (e tem remuneração mais padronizada).
Senior VP
Director | Superintendente
Managing Director | Diretor Executivo
Para outras carreiras, o tempo de experiência exigida e tempo médio de promoção pode variar.
Linha do tempo para a carreira de IB e correlatas: originação
Diretor estatutário
O diretor estatutário é o diretor nomeado pelo estatuto da empresa e tem responsabilidades específicas e pré-determinadas em estatuto ou na lei.
O Diretor Estatutário de um banco responde com o seu patrimônio pessoal pelas consequências da sua gestão, Empresas e bancos registrados conforme a lei das Sociedades Anônimas (ou S.A.) são obrigados a ter diretores estatutários.
Normalmente o CFO de uma SA é um diretor estatutário.
Managing Director | Diretor Executivo
A atividade e responsabilidade do Managing Director é parecida com a do Director, mas normalmente a função está associada a liderança de alguma iniciativa, como ser “head” de um produto ou setor.
Suas metas, naturalmente, são maiores e o seu bônus varia entre extremos, afinal, o “MD” é responsável por toda a estratégia e execução de acordo com o seu mandato.
Os MDs e Diretores normalmente se envolvem com planejamento da área ou do banco, e são envolvidos em questões institucionais e intra-departamentais, inclusive comitês de bônus e promoções.
Muitos bancos internacionais, fazem dos Managing Directors sócios.
Director | Superintendente
Eu disse que era confuso. Nos bancos internacionais, a próxima etapa é Director. Em muitos bancos brasileiros, a próxima etapa é de Superintendente.
O Director é um officer e tem responsabilidade de trazer receita para o banco. Ele terá metas de produtos, receita e custo, seu resultado será medido ponderado ao lucro ajustado por risco entregue. A remuneração fixa costuma ser padronizada, mas os bônus podem variar exponencialmente.