

A carreira “certa” para você
Antes do Mercado Financeiro

Qual carreira faz sentido para mim?
Se você já sabe o que você quer fazer da vida, pode seguir para o próximo tema. Se você ainda está na dúvida, ótimo! Vamos decifrar este enigma juntos.
A primeira coisa que precisamos saber é se o Mercado Financeiro faz sentido para você. Essa pergunta não é trivial como parece. Muitos engenheiros e advogados nos procuram interessados em carreiras no Mercado Financeiro (sim é possível). A maioria dos interessados vem de administração, economia e contabilidade, formações que mais colocam profissionais no Mercado Financeiro. Conheço até um médico cirurgião que foi para o Mercado Financeiro, e em Investment Banking ainda por cima – nós o chamávamos de Doctor! Em suma, a pergunta é: porque o Mercado Financeiro faz sentido para você, em vez de engenharia, direito, marketing, recursos humanos, ou qualquer outro mercado.
Ao tentar me explicar por que o Mercado Financeiro faz sentido para ele ou ela, já ouvi muita bobagem. Dentre as melhores (ou piores), me disseram que o Mercado Financeiro:
“É sexy!“
Não, não é!
“Paga muito bem!“
Até pode pagar, mas um médico também ganha bem, assim como muitos jogadores de futebol e cantores sertanejos.
“É intelectualmente desafiador!”
Piada né!? A maior parte dos trabalhos no Mercado Financeiro são processos, alguns deles não mudaram em nada nos últimos 100 anos.
Ainda me falaram que “gostavam de finanças” ou pior, que “acreditavam em finanças”, como se fosse uma religião! Nenhuma dessas razões justifica sua preferência pelo Mercado Financeiro.
Mercado Financeiro tem uma cultura própria. Algumas pessoas consideram uma cultura tóxica, outras gostam e se identificam. É uma cultura competitiva, mais direcionada por resultado financeiro e dinheiro do que propósito, política, onde se trabalha bastante, e algumas cifras não fazem o menor sentido para o ser humano comum – imagina fechar uma transação de USD4 bilhões!?
O ambiente, de bastante pressão, demanda resiliência e saber gerenciar o estresse.
Não admitem, mas é comum o up or out, ou seja, quem não for promovido será demitido. Também é comum demitirem 10% das pessoas anualmente, exceto quando o mercado está “bombando”.
O Mercado Financeiro é extremamente regulado, o que requer disciplina, e conformidade, o que potencializa a tensão pois tem um monte de gente fiscalizando: governo, banco central, reguladores, competidores, clientes, entidades de autorregulação.
Mercado Financeiro, definitivamente, não é para qualquer um.

Mercado Financeiro é completamente diferente de trabalhar em empresas (nacionais, multinacionais, listadas na bolsa, públicas), repartições públicas, ou ainda, organizações não-governamentais. Mercado Financeiro também é muito diferente do mercado de startups e de empreender. Dentre tantas opções, por que o Mercado Financeiro faz sentido para você?
As chamadas butiques não são tecnicamente parte do Mercado Financeiro, mas compartilham muito da sua cultura. Normalmente competem com algum serviço prestado por um agente do Mercado Financeiro, com profissionais que vieram do Mercado Financeiro. Sua cultura será mais ou menos parecida com a cultura do Mercado
Financeiro a depender dos sócios e o mercado que atenderem. Butiques têm, geralmente, uma cultura mais leve que o Mercado Financeiro que as inspira.
Uma carreira no Mercado Financeiro pode ser interessante, desafiadora, lucrativa, promissora e até flexível. Uma carreira no Mercado Financeiro pode trazer amizade, propósito, felicidade e até admiração. Mas uma carreira no Mercado Financeiro só traz essas qualidades para quem é bom e sabe jogar o jogo! Sua cultura agressiva forja profissionais supercompetitivos, o que não é para qualquer um!
Descubra se o Mercado Financeiro faz sentido para você e saiba explicar para um entrevistador as suas razões.

Valor?
Vamos falar de criação de valor: valor econômico-financeiro, aquele relacionado com a geração futura de caixa. Não é qualquer valor!
Seja autocrítico: quanto vale o que eu estou fazendo? Você pode dizer que vale o que me pagam. Mas isso não é valor, é preço. Adoro a frase do Buffet: “preço é quanto você paga, valor é o que você leva”. Faz muito sentido!
Ou seja, se alguém lhe pagar $100 por hora, é porque aquele serviço vale, para ela, mais do que isso. Não faria sentido pagar mais do que vale. Enquanto os agentes forem racionais e perseguirem o lucro, isso sempre será verdade. Você discorda? Está no seu direito!
Esta relação vale tanto para empregador-empregado como para prestador de serviços-clientes. Não fique chateado com a conclusão de que você nunca será devidamente remunerado, faz parte! O cliente, tampouco, aceitará pagar exatamente o valor agregado para ele ou para ela.
Quanto você captura do valor criado?
Um grande banco americano gira trilhões de dólares na mesa de “cash” diariamente, análogo ao que acontece na mesa de DI de um banco brasileiro. O analista sentado em Nova York está na frente de pelo menos 4 telas de computador com os diversos modelos proprietários do banco e notícias de mercado em tempo real. Ele recebe um telefonema, abre preço de compra e de venda conforme seus modelos e fecha operações de milhões de dólares. No final do dia, um analista ganhou alguns milhões de dólares.
Esta história não é fictícia e acontece todos os dias em alguns bancos de Nova Iorque e no mundo. Apesar de gerar milhões e milhões de resultado, o analista receberá um salário (baixo) em linha com o mercado, e seu bônus não será nada espetacular. Injusto? O analista certamente acha que sim, que ele deveria ganhar um bônus mais generoso, proporcional ao resultado que ele produziu. No entanto, quanto desse resultado foi ele que realmente gerou!?
O banco recebeu o telefonema, o banco fez os modelos de precificação, o banco proveu o sistema de controle e compensação, o banco providenciou o capital, o banco... fez tudo. O analista estava sentado na frente do telefone, o analista não fez muito mais do que isso
(comum no começou da sua carreira).
Fase 1
O valor está na cadeira, não está na pessoa. Qualquer pessoa que se sentar nessa cadeira terá os mesmos resultados
À medida que este banker amadurece, desenvolve relacionamentos, aumenta seu entendimento de produtos e como estruturar soluções que atendam seus clientes, o banker vale mais para o banco. O banker agrega mais valor para o cliente e agora fica com uma parte (pequena) dessa criação de valor no seu bônus.
Fase 2
O banker transfere valor da cadeira para sua pessoa. Agora o valor será uma função da cadeira (banco) e da pessoa (banker). O seu bônus crescerá exponencialmente.
Mais sênior, o banker agrega valor para seus clientes com sua experiência, ideias, conexões e competência e ficará com uma parte desse valor criado. A importância da pessoa é maior do que a importância do banco de forma que,
provavelmente, seu bônus será incrível para o desincentivar para ir para outro banco.
Fase 3
A maior parte do valor está na
atuação da pessoa (banker), e menos valor na cadeira (banco). Espere ótimos bonsuses.
Muitas vezes este sênior banker chega ao ponto de não precisar do apoio de um banco. Se ele for empreendedor (a maioria não é) ele contrata serviços no mercado pelo menor preço, e retem para ele a maior parte do valor criado. Como a criação de valor está diretamente associada à atuação da pessoa, a pessoa não pode tirar férias, ficar doente, ou ser atropelada na rua.
Fase 4
A pessoa (banker) se torna a
cadeira (banco). Ser dono do próprio nariz traz possibilidades incríveis, com risco proporcional.
Quando a pessoa (banker) se alavanca
em outras pessoas, sistemas e processos para explorar o seu know-how de criação de valor, o banker está criando uma nova “cadeira”.
Fase 5
A pessoa agora transfere o seu
valor para a empresa que ela criou, onde cria cadeiras para novos funcionários se sentar (Fase 1), fechando o ciclo.
Daqui levo a conversa para as suas economias: a diferença entre o que você ganha e o que você gasta. Então!! Seguimos a mesma lógica! Você só economizará – não gastará – se estiver convencido que usufruir aquele dinheiro no futuro será melhor (terá mais valor) do que usufruir aquele dinheiro aqui e agora. Em outras palavras, você está trocando um benefício hoje por outro benefício no futuro que você acha que será maior.
Quem melhor colocou este assunto foi o Gustavo Cerbasi. Nas palavras dele, todo investimento representa um sacrifício no presente como expliquei acima.
Quanto valor foi criado para o cliente?
Quem criou esse valor: a empresa/banco ou o funcionário?
Quanto desse valor será retido pela empresa / banco, e quanto desse valor será convertido para os funcionários envolvidos
Voltando à relação empregado-empregador, nosso tema central, a questão é multifacetada: